quinta-feira, 23 de julho de 2009

O mercado e as expectativas adaptativas

Os últimos meses foram marcados pelas expectativas de diferentes agentes; alguns se posicionaram com otimismo frente à possível recuperação da economia enquanto outros ainda veem a situação com uma certa dose de pessimismo. A economia aborda, teoricamente, dois modelos de expectativas e a maneira como elas influenciam na decisão dos agentes. Enquanto, as expectativas racionais influenciam nas decisões do presente em relação ao futuro, as expectativas adaptativas influenciam o presente tomando como premissa os fatos que ocorreram no passado.As decisões intertemporais realizadas pelos agentes econômicos constantemente são determinadas por algum tipo de incerteza em relação ao futuro. Desta forma, uma empresa que possui planos de realizar um investimento necessita tecnicamente conhecer a trajetória futura dos rendimentos, que serão calculados com algum nível de incerteza: se houver recessão, os rendimentos serão baixos; se houver uma expansão, serão altos. A situação exata da economia no futuro é virtualmente desconhecida1.
"As expectativas positivas dos anos anteriores vão se refletir nos próximos anos"Sucintamente, a teoria das expectativas adaptativas, originária da corrente econômica ortodoxa, sugere que as pessoas e empresas elaboram as suas expectativas presente e futura, com base nos eventos ocorridos no período anterior. Neste caso, os agentes inferem certa probabilidade de ocorrer novamente o evento passado, em termos explicativos supomos que Ye significa a expectativa de Y no período t0, desta forma (Y - Ye) será o erro da previsão no período anterior, ou seja, a diferença será o erro da previsão que não deu certo. De forma geral, Ye+1 é determinada para um período, atualizando-se as expectativas Ye de acordo com uma fração de erro previsto2.Observando o pós crise, as variáveis seguidas pelos agentes para as suas tomadas de decisão foram influenciadas por um ambiente atrelado a um passado extremamente positivo, no que concerne aos lucros, e a um futuro próximo que sugerisse sinais de uma recuperação nos mercados em menos de dois anos (2010/2011). O passado recente refere-se aos anos de 2007 e 2008, no qual a velocidade das altas dos preços e da expansão econômica impôs um ritmo nas expectativas cada vez mais viesado por indicadores positivos. Nesta perspectiva, os mercados financeiros, principalmente o de commodities, apresentaram uma recuperação no curto prazo impressionante. Se utilizarmos como t0, setembro de 2009, a commodity soja apresentou uma queda de apenas de 3,7%. Porém em relação à sua máxima ocorrida em julho de 2008, os preços estão 25,9% menores. Neste caso, a influência das expectativas adaptativas iniciou-se em março de 2009 que, além dos fatores favoráveis para a recuperação dos preços, como a demanda chinesa, os agentes desse mercado começaram a olhar o cenário favorável desde novembro de 2006, cuja valorização em relação à máxima foi de 56,0%.Da mesma forma ocorreu com as cotações do petróleo Brent, cuja comparação da sua máxima refletiu numa queda nos preços de 48,7%, entre junho de 2008/09. Porém no pós crise de setembro de 2008 a média de junho de 2009 apresentou uma queda de 30,7% na cotação da média mensal. Ou seja, o preço da média das cotações de junho 2009 levou apenas nove meses para se recuperar, sendo que foram necessários 29 meses para atingir a média de setembro de 2008. Em termos explicativos a cotação de setembro de 2008 estava próxima à atingida em abril de 2006.O mesmo está acontecendo no mercado de ações, sendo que os principais índices de bolsas estão apresentando uma velocidade nas altas nos meses do pós crise muito mais rápida do que nos meses antecedentes da crise em setembro de 2009. Isso sugere duas opiniões interessantes: a primeira é que alguns agentes do mercado estão olhando para os dados da economia internacional e doméstica, e esperando uma recuperação mais lenta; já a segunda apresenta evidência de que as expectativas positivas dos anos anteriores vão se refletir nos próximos anos. A junção destas expectativas causarão sérios impactos nos preços dos ativos dos mercados financeiros.1Sachs, J., Larrain, F. Macroeconomia. São Paulo. Pearson. 2004.2Parkin, M. Adaptative Expectations. In: The New Palgrave Dictionary of Money and Finance. Newman, P., Milgate, M. & Eatwell. London, Macmillan. 1992.Ricardo André Jacomassi é responsável por análises setoriais das commodities agrícolas na LAFIS Consultoria Econômica e escreve mensalmente na InfoMoney, às quintas-feiras.

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